sábado, 11 de agosto de 2012

Pastor Alex Sousa Reinaldo

Do Blog do Robert Lobato
Pastor Alex Reinaldo:
luta pela cidadania
O blog entrevistou, com exclusividade, o pastor da igreja Presbiteriana do Brasil, no município de Brejo, Alex Sousa Reinaldo.

Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Brasília, professor de filosofia da rede estadual, Alex nasceu em Buriti de Inácia Vaz, é casado, pai de dois filhos e tem dedicado parte da sua vida na luta pela justiça social, cidadania e desenvolvimento sustentável.

Na entrevista, Alex expõe a luta da igreja engajada, a importância da fé cristã e coloca o dedo nas chagas do sistema, inclusive da face criminosa da política associada à agiotagem

Abaixo a íntegra a entrevista:

Como é a sua luta em favor do povo e da cidadania na cidade de Brejo? 

Os meus pressupostos são baseados, sobretudo, numa cosmovisão cristã, que se encontra nos sinais de lutas sociais que lembram bem a busca por cidadania por volta do século VIII AC. Os Profetas Isaías e Amós pregavam em favor do povo e contra os opressores: “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido. Fazei justiça ao órfão, defendei a viúva. Portanto, já que explorais o pobre e lhe exigis tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porém não habitareis nelas, plantareis as mais excelentes vinhas, porém não bebereis do seu vinho. Porque eu conheço as vossas inúmeras transgressões e os vossos grandes pecados: atacais o justo, aceitais subornos e rejeitais os pobres à sua porta”.

Como senhor concilia a religião com as atividades políticas?

Em primeiro lugar devemos nos libertar da noção confortável de que o cristianismo é uma mera experiência pessoal. “Nenhum homem é uma ilha”, escreveu o poeta cristão John Donne. Mas o grande mito de nossos dias é o que nós somos ilhas – que as nossas decisões são pessoais e que ninguém tem o direito de nos dizer o que fazer nas nossas vidas particulares. Os profetas eram os educadores sociais de seus tempos que chamavam o povo, seus lideres e nações, a prestar contas de seus caminhos. “A esperança tem duas lindas filhas:a ira e a coragem. Ira para com o modo como são as coisas, e coragem para ver que não precisam permanecer como estão”, disse o grande mestre Agostinho.

Qual a sua avaliação sobre os políticos do município?

A grande maioria (com raríssima exceção), não está mais preocupado com o conteúdo programático do seu partido, mas se vai ou não ganhar as eleições para chegar aos postos e se servir aos próprios propósitos. O modelo “realpolitik” se esgotou e parece que nem todos estão percebendo. Não dá mais para viver essa praga que se entranhou no sistema político brasileiro. Erva daninha que corrói valores, exclui a participação, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética. Nascida na Alemanha, a expressão “realpolitik”, segundo Luis Fernando Veríssimo, é um termo invocado quando um acordo ou arranjo político agride o bom-senso ou a moral.

Em relação ao atual prefeito da sua cidade, qual a sua avaliação?

Decepcionante! Adotou em sua gestão todas praticas sórdidas e imorais; manipulação total dos conselhos municipais, jogou pelos ralo milhões de reais em estradas vicinais, poços artesianos e pavimentação de vias urbanas, construções de casas populares, recursos advindos em quase sua totalidade, de convênios e emendas. Aumentou o número das secretarias municipais para gerar emprego para seus aliados. Diante disso, nosso quase esquecido Rui Barbosa o que diria? Talvez que, “de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos homens, o homem chega desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto.” Porque, aqui, não há meio termo. Ou condenamos a corrupção, ou somos seus cúmplices. Condená-la é condenar todo ato de corrupção, é exigir sua apuração, seja qual for o partido ou o governo que a pratique ou tolere.

A Câmara Municipal de Brejo cumpre bem o seu papel enquanto instituição fiscalizadora do Executivo?

De forma nenhuma, inclusive, toda essa safadeza que acontecendo no município, é justamente porque eles, não exercem sua função fiscalizadora. Aqui o poder legislativo é uma instituição falida, pois apenas presta para aprovar os mandos e os desmandos do executivo e fazer acordos espúrios no período de eleição da camará, e servir de cabide de emprego para os correligionários e cabos eleitorais dos que fazem aquele poder.

O que levou o senhor a lutar contra os poderosos locais?

Espelho-me nos grandes profetas como Jeremias, que quando aprisionado e torturado por causa de suas destemerosas afirmações, devia ainda falar contra o pecado. Jeremias foi desprezado, odiado, rejeitado dos homens, perseguido pelos patrícios, maltratado pelos reis, desprezado e rechaçado pelos falsos profetas; Contudo, foi escolhido por Deus.

Você é filado a algum partido ou deseja ser candidato este ano a algum cargo eletivo?

Não sou filiado a nenhum partido, consequentemente não serei candidato.

Você teme pela sua vida?

O filósofo e mártir tcheco, Vitezslav Gardavsky, morto em 1978, elegeu Jeremias como seu “modelo de ser humano” em sua campanha contra uma sociedade que planejava cuidadosamente cada detalhe da existência material, porém eliminava da vida o mistério e o milagre, extirpando assim toda a verdadeira liberdade. Ele escreveu que a terrível ameaça contra a vida não é a morte e nem a dor, nem qualquer tipo de desastre contra os quais nós tão obsessivamente procuramos nos proteger com nossos sistemas sociais e estratégias pessoais. O grande perigo é, na verdade, “morrermos antes de realmente morrer, antes que a morte nos sobrevenha como um fato natura”. Parafraseando Magdala Domingues: “Minha voz é um sussurro na multidão”. E aqui estou acendendo o meu fósforo, na esperança de que um dia, apareça, uma luz no fim deste túnel.

O crime da agiotagem ganhou destaque na imprensa e no meio político maranhense. Esse tipo de crime é muito comum na sua região?

Com certeza, pois muitos agiotas emprestam dinheiro que é devolvido através de fraudes de licitações, desvios de verbas federais, a mesma história de sempre: negociam abertamente com prefeitos, o pior é que esses pilantras vivem em nossas cidades como verdadeiros cidadãos de bem. Em todos os município a prática da agiotagem é extremamente visível. Como diz certo blogueiro da região: os prefeitos sempre estão tomando e devendo. As margens de juros oscilam, mas existe casos em que os cofres municipais bancam até 60% e ainda assumem o compromisso de negociar a merenda escolar, medicamentos, materiais de expediente e construção de obras. Boa parte dos agiotas é dono de empresas do ramo. Imaginemos, na Assembleia Legislativa e me diga quantos agiotas compõem o plenário daquela casa? Por fim, como informa os meios de comunicação hoje: A polícia maranhense já sabe como funciona o esquema de agiotagem envolvendo prefeituras e outras instâncias da classe política e do poder público no Maranhão. Sabe, por exemplo, que, para funcionar, o esquema conta com um braço na Polícia Federal, outro em setores da Justiça – estadual e federal – e de órgãos federais de controle e fiscalização. Os agiotas agem em duas frentes: numa delas financia campanhas eleitorais de promissores candidatos, dando garantias de que o pagamento só será feito em caso de vitória nas urnas – com dinheiro público, obviamente. Na outra frente, a quadrilha se adianta às operações da Polícia Federal – devidamente informada por membros da própria PF – e oferece “serviço” para livrar os gestores enrolados, mediante pagamento. É nesta frente que a polícia maranhense tem focado suas investigações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário