quarta-feira, 6 de junho de 2012

Portugueses e Libaneses fizeram história em São Luís


Bruno Gouveia
Da equipe de O Estado

LUSITANOS IMPRIMIRAM OS TRAÇOS DE SUA CULTURA E MODO DE VIDA NO COTIDIANO DA CIDADE; LIBANESES BUSCAVAM MELHORAR DE VIDA E ENCONTRARAM NO MARANHÃO CHANCES DE PROGRESSO ECONÔMICO E SOCIAL

O que define uma identidade? Uma marca cultural? Seriam a forma de vestir, de pensar, os hábitos gastronômicos? Se tudo isso faz parte de um grande conjunto, então quem os define? Em São Luís, cidade prestes a chegar aos 400 anos, algumas gerações já passaram por estas terras e deixaram suas marcas, muitas delas vieram de longe e conseguiram marcar com a força do sobrenome uma história.

Das imigrações mais importantes é fácil e claro destacar a portuguesa. São Luís foi uma das últimas capitais a aderir à independência do Brasil por ter uma relação muito estreita com a Coroa Portuguesa e muitos dos hábitos do nosso cotidiano estão calcados na linhagem do sangue lusitano. Outro grande povo que tem laços profundos com o povo maranhense e em especial o ludovicense são os sírios-libaneses que com personalidade forte e marcante estão presentes atualmente, com muita perspicácia, no cenário político e cultural da cidade.

Com a memória de um lusitano puro sangue, Fernando Silva, que já exerceu as funções de vice-cônsul honorário de Portugal no Maranhão, destaca que nenhum dos acontecimentos históricos – Independência do Brasil, Abolição da Escravatura e Proclamação da República – desestimulou a determinação de vencer da brava raça lusitana no Maranhão. Segundo Fernando Silva o tino comercial dos portugueses se justifica pela herança aventureira do espírito mercante dos judeus, árabes e fenícios que moldaram a raça lusitana.

No fim do século XVIII, a colônia portuguesa estava radicada no Maranhão pela figura do governador Joaquim de Melo e Póvoas (1761 – 1775), sobrinho do primeiro-ministro português Marquês de Pombal. Tal aproximação com a nobreza portuguesa outorgou aos lusitanos uma legitimidade em terras maranhenses para que aqui vingassem seus negócios.

Com a chegada dos primeiros colonos, vindos dos Açores para a antiga Capitania do Maranhão, foi notável a colaboração que eles ofereceram à Companhia do Grão Pará e Maranhão. Aprimorou-se a experiência no plantio do algodão e do arroz, desenvolvendo-se a exportação desses produtos. Foram importadas duas máquinas, uma para fabricar anil, outra para “quebra de arroz”. O desenvolvimento econômico se fez sentir no progresso e no embelezamento da cidade.

COTIDIANO
O dia a dia da família portuguesa em São Luís seguia o ritmo dos ditames católicos, os filhos estudavam no colégio Maristas e as filhas no Santa Tereza. No domingo freqüentavam as missas e no mês de maio havia as ladainhas.

Fernando Silva lembra ter aprendido tudo sobre comércio, uma das características mais marcantes dos portugueses, com o pai, Adelino Silva. Mas o que mais se aprendia no dia a dia do comerciante era do respeito pelas pessoas, à honradez dos compromissos. “A diferença daquela época é que os negócios e negociantes eram respeitados. Orgulhava-se de ver a razão social das sociedades mercantis ostentando o nome ou sobrenome dos seus proprietários. Era uma questão de confiança e credibilidade”, ressalta.

“Meu pai veio com José da Silva Borges, amigo e vizinho do meu avô em Portugal, e aqui em São Luís, proprietário da tradicional Mercearia Neves. O novel imigrante começou a trabalhar, mas sem deixar os estudos”, conta o filho mais velho de Adelino Silva.

Em 1936, Adelino Silva deixou o primeiro emprego e ingressou na empresa Silva Linhares. Três anos depois, foi um dos co-fundadores da Mercearia Aliança, nome de fantasia da firma Silva, Resende & Cia. Mas a carreira no comércio teve destaque na Silva Linhares, firma que dirigiu com largo descortino. Foi um dos mais bem-sucedidos comerciantes da sua época e o governo português, reconhecendo-lhe méritos, o distinguiu com a nomeação para o cargo de vice-cônsul honorário de Portugal no Maranhão, função honrosa que exerceu de 1968 a 1983 dentro dos mais rígidos padrões morais e éticos. “Foi nessa firma que trabalhei com o meu pai. Mas não era por ser filho que era privilegiado, trabalhei como qualquer outro e fiz carreira, sou comerciante por vocação”, destaca, com orgulho.

Fonte: Especial São Luís 339 anos/Jornal O Estado do Maranhão, 8 de setembro de 2011

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